sexta-feira, 7 de maio de 2010

Procrastinação como forma de resistência



Vou falar um pouco sobre um tema um tantinho espinhoso, desses que a gente só reconhece depois de bater um bom papo consigo mesmo.
Em meio a um turbilhão de tarefas e obrigações, tanto pessoais quanto profissionais, nos sentimos muitas vezes, senão a maior parte do tempo, pressionados, cobrados. Mesmo quando não nos cobram coisa alguma. É algo meio paranóico, de se estar sozinho fazendo algo e olhar com o canto de olho por cima do ombro e pensar "alguém tá me observando? eu tô fazendo tudo certinho...tô sim...olha como tá certinho...TÁ CERTINHO!...e se não acharem que está eu não faço mais, foda-se, não vou fazer, depois eu faço... e faço na hora que eu quiser, porque ninguém manda em mim!". Pronto. Procrastinação como forma de resistência. E o que seria isso? É resistir, se opor contra uma autoridade qualquer, deixando de fazer o que está sendo exigido de você ou o que você pensa que está sendo exigido. E por que as pessoas (eu, você e muita gente) se rebelam contra azotoridades? Simplesmente para poder afirmar a própria individualidade. É querer dizer pro mundo (por "mundo" entenda chefe, orientador, irmão mais velho, mãe, namorada, esposa, marido, etc.), mesmo que de maneira equivocada, que você é alguém com vontade própria, que possui uma identidade e que, hum.. que não gosta de receber ordens ( e talvez esteja um tanto inseguro por recebê-las).
Mas aí alguém pode pensar "bando de baderneiros, já não basta toda essa procrastinação, ainda vem dizer que não gostam de receber ordens?", como se isso fosse mau .Não acho que seja mau não gostar de receber ordens. Poxa, quem curte? O que é mau é o tipo de enfoque que damos para as pequenas (e grandes) atividades do dia-a-dia. E as coisas mais importantes ou as mais corriqueiras podem se tornar uma obrigação que, não necessariamente, é cobrada por uma autoridade concreta, de carne e osso.

Certo, esse papo está muito abstrato, vamos aos exemplos.

Você trabalha ou faz, sei lá, mestrado (hehe) e aí seu chefe ou orientador te cobra um relatório. E até então você sempre gostou do trabalho que vinha realizando, afinal, ele era tudo o que você pediu a Deus, tá lá ganhando um bom salário, uma boa bolsa, ou não tá ganhando nada, mas está fazendo algo bacana e de repente... veio a ordem. Você encara tudo com naturalidade e boa vontade, afinal, você entrou nessa porque quis, mas aí você começa a desenvolver uma raivinha por causa dessa situação. Por mais que você saiba fazer o que precisa ser feito e saiba fazer bem (ou, ok, não saiba fazer e nem fazer bem) a sensação de peso e cobrança começa a te torturar.

"Tenho que fazer isso, tenho que fazer isso. É pra semana que vem. Será que ele(a) vai achar bom? Talvez me esculache. Talvez acabe com minha dignidade. Por que eu tenho que fazer isso, hein? E por que tem que ser pra semana que vem? Ah, não vou fazer agora, ele(a) que espere. É tão importante assim? Poxa, eu tenho outras coisas pra fazer na vida fora isso e..."

Entendeu? É o enfoque que gera raivinha que vai fazer a pessoa procrastinar de modo ineficiente. E por que ineficiente? Porque quando a gente está com raivinha, a gente não consegue pensar criativamente e ter força para fazer coisas úteis e que façam bem, enquanto está deixando de fazer o que precisa ser feito. Talvez você deite e durma, ou tome um pote de sorvete, ou saia por aí falando mal da autoridade que está te "perseguindo". Mas por dentro a raivinha vai inundar todo o seu ser e, ah! isso é tão prejudicial. Não caiam nessa, pró-crastinadores. Não alimentem esse tipo de enfoque irracional que apenas vai nos matando aos pouquinhos. Talvez a autoridade não tenha mesmo a melhor das personalidades, mas não utilize esse tipo de resistência para salvar a própria dignidade. Não vale a pena. Questione quando for preciso, mas não procrastine o que ainda lhe é importante. Pense no que isso vai te acrescentar. Pense em si mesmo. Não pense no OUTRO.

Outro exemplo de resistência procrastinante é contra uma autoridade etérea.

Por exemplo: Você resolve começar a praticar uma atividade física, está indo na academia, comprou uma roupinha descolada e tudo está indo bem, você realmente está curtindo isso. Então um dia você acorda e não está muito a fim de ir malhar e ao invés de simplesmente não ir e deixar por isso mesmo, talvez ir no outro dia, você começa a procurar justificativas para sua falta de vontade, sente que a autoridade etérea está te cobrando e pensa "odeio a sociedade, sociedade superficial que só pensa na aparência, eu é que não vou me render a isso, não vou fazer abdominal coisa nenhuma, eu não preciso disso, eu não vou me render!". Pronto. Vai deixar de fazer algo pelos motivos errados. Vai passar o dia de mau humor e com raivinha da sociedade (tiiinha que ser a sociedade!). Talvez deixe de ir na academia a semana toda só pra se rebelar.

Ah. Para com isso.

Pró-crastinadores, procrastinem pelos motivos certos, que te energizem. Não quer fazer algo agora, já? Não faça. Vai fazer outras coisas bacanas, vai ser feliz e depois volta e faz.
Algumas coisas a gente realmente TEM QUE fazer e outras a gente não TEM QUE. Mas é como sempre tivesse alguém vigiando, né? E punindo.
Muda o enfoque.

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