quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pró-crastinadores?

Desde que escrevi o primeiro post, não expliquei direito o por quê do título do blog ser pró-crastinadores, assim, com essa grafia. O que quis fazer foi somente um jogo de palavras, uma brincadeira, com o termo "pró-ativo", muito em voga atualmente. Mas a grafia de pró-ativo também pode ser proativo. Acho que começaram a colocar hífen só para dar ênfase, assim como algumas pessoas escrevem pré-conceito, para chamar a atenção para o significado da palavra. Enfim, aqui no blog eu escreverei procrastinação com e sem hífen. A utilização do hífen é para mudar a "imagem" que temos dessa expressão. Exemplo:

Procrastinação= do MAL
Pró-crastinação= do BEM

E, obviamente, isso é outra brincadeira, afinal, esse tipo de interpretação binarista da vida já está ficando meio que ultrapassada. O mundo não se divide mais entre Ruth e Raquel, aliás, nunca se dividiu, mas é que a gente acha gostosa a sensação de segurança que provem do fato de sabermos que existem fronteiras bem demarcadas para tudo. Faz bem para o nosso senso de auto-valor saber que opa, eu sou ISSO aqui, mas não, pelo amor de deus, eu definitivamente não sou AQUILO. Quem é AQUILO é aquele OUTRO.

Com isso, quero dizer que procrastinador e proativo não são conceitos excludentes. As palavras ao pé da letra, são diferentes, claro. Como foi visto aqui, procrastinar quer dizer adiar, já a proação tem a ver com tomar a iniciativa. Mas adiar também não significa NÃO-fazer, mas "fazer depois". E entre a intenção e o fazer pode haver vários processos que podem não ser medidos através de termos como produtividade, mas nem por isso são menos importantes ou até mesmo imprescindíveis. Aliás, está aí outra palavra que se disseminou e tomou conta de quase todos os setores da nossa vida. Proveniente do meio empresarial, hoje produtividade é usada para designar coisas fundamentais do cotidiano como ser eficiente ao voltar pra casa, preparar a janta e dar banho nas crianças ou se relacionar bem com o parceiro(a). Sabe, como dizem por aí, 'demonstrar serviço". Então a gente vai proagindo, sem saber ao certo o por quê, e acumulando muitas atividades inúteis pra não perder essa sensação "gostosa" de... produtividade. He-he.

E assim eu sigo desconfiando do uso das palavras e fico meio perplexa quando vejo que tem gente que leva isso a ferro e fogo. Estava pesquisando sobre proação para escrever esse post e me deparei com alguns textos em que os autores (da área de RH) estavam muito desapontados, pois "muita gente que se diz pró-ativa, não é pró-ativa... Colocam lá no currículo ou respondem, durante uma entrevista que sua melhor qualidade é serem pró-ativas, mas no dia-a-dia acabam não demonstrando isso, ficam fazendo corpo mole (humpf, magooei)" .

Ora, mas isso nem é de se estranhar, já que há tanta expectativa por trás dessa simples expressão.
Algumas vezes as pessoas vão tomar a iniciativa, algumas vezes não. Algumas vezes elas vão se dispor a ficar trabalhando naquele relatório durante o final de semana, se isso for proposto como uma opção. E, às vezes, não. Outras vezes elas vão se colocar a frente da equipe e vão solucionar aquele pepino e.... às vezes, não. E sabe o que elas vão , às vezes, fazer também? Vão pró-crastinar. E óbvio que ninguém vai dizer isso numa entrevista de emprego, porque isso é feio. É uma característica muito humana e, cá entre nós, não é muito legal demonstrar isso. Melhor mesmo é dizer, caso perguntarem isso, que seu defeito é ser perfeccionista. E sei lá quem é que inventou isso de falar que ser perfeccionista é bacana, como se fosse bom ser neurótico. Então é isso, você é pró-ativo e perfeccionista. Mas o entrevistador sabe (ou ao menos deveria) que as pessoas perfeccionistas são também as que mais procrastinam (depois escrevo um post só sobre isso).

No próximo post irei falar sobre mais um pró-crastinador de sucesso, o filósofo John Perry, professor da Universidade de Stanford. Hum, mais um acadêmico. Vou pesquisar sobre alguns pró-crastinadores de sucesso de outras áreas. Vamos ver se acho algo sobre o Antônio Ermírio de Moraes ou, sei lá, Steve Jobs... afinal, quem é que larga a faculdade para fazer curso de caligrafia? Um pró-crastinador!

"Eu abandonei a faculdade no primeiro semestre, mas continuei frequentando por mais dezoito meses, antes que eu realmente saísse" (Steve Jobs). Imagina o tanto de estudo para prova que ele pró-crastinou.

Em suma, só gostaria de ressaltar que o motivo principal de ter escrito esse post era o de defender uma visão mais ampla das características humanas. Sejamos nós empreendedores, acadêmicos, artistas ou tudo isso juntoemisturado.

Um comentário:

Quéroul disse...

procrastinar é viver.
chega uma hora que cansa também, mas né... a gente deixa pra se cansar depois.
;)